‘’Sheik’’ dos bitcoins, evangélico projetou uma imagem de sucesso para dar golpe bilionário

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (3 de novembro de 2022) o empresário Francisley Valdevino da Silva, também conhecido como Sheik dos Bitcoins. A instituição cumpriu dois mandados de busca e apreensão, além de um mandado de prisão preventiva contra Francisley, suspeito de chefiar um esquema de pirâmide financeira disfarçado de aluguel de criptomoedas.

A autoconstrução da imagem de sucesso, que Francisley Valdevino da Silva, o “Sheik dos Bitcoins” criou foi de um vitorioso empresário, dedicado evangélico, amigo de estrelas e rico. Dessa forma, ele conseguiu angariar a confiança dos investidores para aplicar um golpe bilionário. 

Ele foi batizado como Francisley Valdevino da Silva, mas nunca gostou do nome, de acordo com O Globo preferia ser chamado de Francis da Silva, em sua trajetória, lançou um negócio de “aluguel de criptomoedas” e atraiu uma legião de clientes, inclusive alguns famosos, ao oferecer lucros mensais absurdos do valor investido.

Como o Sheik dos bitcoins foi preso

No início do ano de 2022, Francisley, quebrou e legou ao investidores um deserto de esperança,  ele foi preso no dia 3 de novembro acusado de fraude financeira e de continuar captando clientes, mesmo depois de ser indiciado em inquérito da PF. Estimativas indicam que ele teria arrecadado R$ 1 bilhão, oferecendo taxas de até 13,5% de juros mensais pelo aluguel de criptomoedas. Para a Polícia Federal, o real esquema do Sheik dos bitcoins era uma pirâmide financeira.

A PF informou que, dias depois da deflagração da operação, Francisley passou a realizar encontros frequentes na casa dele, em Curitiba, com funcionários das empresas investigadas.

Entre esses funcionários estavam a gerente financeira do grupo e o responsável pelo design gráfico das plataformas virtuais criadas pelo investigado para prática das fraudes.

Ainda conforme a polícia, a realização dos encontros frequentes com este último funcionário “demonstrou que a organização criminosa continuava ativa e promovendo atos criminosos”. Anteriormente, a Polícia Federal havia pedido, por duas vezes, a prisão preventiva de Francisley. Os dois pedidos foram negados pela Justiça Federal.

Francis da Silva é dono da Rental Coins, empresa aberta em janeiro de 2019 com a inusitada proposta de alugar criptomoedas dos investidores, prometendo no início pagar juros de 0,5% a 5% ao mês e devolver os ativos do cliente ao final de um ano de contrato.

 À medida em que o dinheiro foi entrando, Francis fez dois movimentos: afiar a retórica cristã, mostrando-se um religioso praticamente, e investir no estilo luxuoso, circulando em aviões e helicópteros privados e restaurantes caros, vestindo roupas de grife e mantendo uma espécie de ponte-aérea Brasil-Emirados Árabes.

“Sempre se mostrou bondoso, prestativo e muito religioso”, conta um ex-amigo, que foi vitima de um calote de R$ 600 mil do dono da Rental.

Começo e Trajetória 

Ele começou como funcionário de uma pet shop. Limpava animais de estimação. Após o primeiro fracasso em negócio próprio com a venda de roupas, mudou-se para tentar a sorte em Curitiba. Com um pequeno capital, montou uma empresa de marketing multinível – modelo de distribuição de bens em que os ganhos podem vir da venda efetiva dos produtos ou do recrutamento de novos vendedores. Seis meses depois, sofreu acusações de criar uma pirâmide financeira e resolveu partir para os Estados Unidos.

Chegou à Flórida em 2016, segundo ele, com US$ 20 no bolso. O prognóstico da mãe começou a acontecer quando um homem, que Francis diz ter conhecido no supermercado, o apresentou às bitcoins. Depois de trabalhar em uma empresa de tecnologia, abriu a sua própria operadora, mas – por motivos que não explica – acabou voltando para Curitiba no ano seguinte.

A Polícia Federal, sustenta que, desde o início de suas atividades, Francis manteve uma estreita relação com o meio evangélico. Para que pudesse dar um ar de seriedade ao negócio, diz o documento, que ele organizou nos templos religiosos funcionários com idade média de 25 anos, a maioria sem curso superior, que obedeciam às suas ordens mesmo sem entendê-las muito bem e muito menos questioná-las.

O Sheik dos bitcoins em entrevista a TV Record.
O Sheik dos bitcoins em entrevista a TV Record.

Religion e dinheiro

O Sheik sempre demonstrou grande apoio e vinculação à Igreja Betel Church, gerida pelo pastor Ademar Ribeiro. Porém, seu contato com os evangélicos se aprofundou mais em 2019, quando ele passou a namorar a cantora gospel Isadora Pompeo, que se mudou para Curitiba, a base dos negócios de Francis. Ele chegou a iniciar alguns processos para abrir uma igreja, que seria administrada pela cantora Isadora  e pelo pai da cantora, Josué Carlos da Silva Pompeo. Mas o fim do relacionamento entre o Francisley e Isadora abortou o plano.

Apesar do rompimento com a cantora, diz a Polícia Federal, o sheik manteve a sua ascensão em círculos evangélicos, se aproximando de pessoas como os pastores e bispos Antônio Cirilo da Costa, Deive Leonardo, Edir Macedo e Tiago Brunet. Para ganhar a confiança destes líderes e, assim, obter mais investidores no seu esquema, o grupo de Francis fez enormes doações a igrejas como demonstração, como a Polícia comprovou em documentos apreendidos.

O fervor cristão, abriu as portas do mundo gospel para o sheik. Francis Também criou uma gravadora, a Sounder Music, onde conhecidos cantores gospel, como Aline Barros, João Figueiredo e Priscilla Alcântara gravaram videoclipes, Pastores, cantores e fiéis acreditaram no esquema. Um deles foi Sasha Meneghel, filha de Xuxa, que conheceu o negócio de Francis por frequentar um templo evangélico. Empolgados, ela e o marido, o cantor João Figueiredo, fizeram aportes que totalizaram R$ 1,2 milhão. Em abril deste ano, após o calote, ambos processaram o empresário na Justiça de Curitiba.

A Polícia apurou que o sheik a relação com o mundo da fé também serviu de ponte deacesso a outras pessoas de fama nacional, como Neymar Jr., Minotauro e Minotouro, Whindersson Nunes, entre outros. Para os investigadores, mais do que eventuais vítimas, essas figuras serviram como fonte indireta de publicidade dos negócios do grupo, na medida em que eram apresentadas ao público como “amigos pessoais”.

Erguida a “falsa imagem de integridade aos seus negócios”, como afirma o documento, Francisley conquistou o apoio de pessoas influentes no público evangélico como meio de prospecção de novos agentes captadores. Ele criou um sistema de franquias e licenciou um grande número de agentes de captação ativos no meio protestante.

Sasha, filha da Xuxa.
Sasha, filha da Xuxa.

 Queda e prisão

Em abril de 2021, o empreendimento de Francis sofreu o primeiro baque. O diretor comercial de uma de suas empresas, a Compralo, Guilherme Grabaski, sofreu um atentado a tiros e ficou gravemente ferido. Um ex-colaborador disse que a Compralo era o braço do negócio destinado aos pagamentos dos investidores. De acordo com a fonte, Francis é dono de centenas de empresas de prateleira.

Guilherme sobreviveu, mas até hoje sofre sequelas da emboscada. Ele foi atingido na cabeça, tórax e braço. Embora a polícia nunca tenha provado a relação do crime com o aluguel de criptomoeadas, o atentado assustou funcionários e clientes. Tanto assim que o ex-colaborador e o investidor ouvidos na reportagem pediram que as suas identidades ficassem mantidas em sigilo.

Francis da Silva, o sheik dos bitcoins.
Francis da Silva, o sheik dos bitcoins.

Os atrasos começaram em outubro do ano passado. Dois meses depois, ele parou completamente o pagamento dos aluguéis. Alegou que a empresa passava por uma reengenharia e propos um acordo com os investidores – cerca de 40 mil, aproximadamente – que previa o ressarcimento em 38 prestações. Para aderir, porém, o cliente precisava assinar um acordo em que abria mão de eventuais ações judiciais. 

Mais recentemente, no início desse ano, ele chegou a pagar as primeiras parcelas, mas a fonte do sheik secou em definitivo, causando revolta e desespero, aonde cresciam as suspeitas de calote, a PF apurou que o grupo chegou a contratar a cantora e ex-participante do programa Big Brother Brasil Gabi Martins, para o lançamento de publicidade em suas redes sociais, a fim de ganhar visibilidade e tentar recuperar a falsa imagem de credibilidade do negócio.

A pretexto de reformular o site do grupo, esse mês ele tirou do ar a plataforma que informava os investimentos individuais. Para os clientes, o objetivo foi apagar as provas de que embolsou uma fortuna e deu um calote coletivo.

Das redes sociais, a fama do sheik migrou para os gabinetes do Judiciário e das autoridades policiais sendo preso no dia 3 de novembro. Além de figurar no pólo passivo de centenas de ações civis, dos clientes que não fizeram acordo e buscam um ressarcimento judicial, ele é alvo de uma investigação da Polícia Federal do Paraná.

Famosos arrependidos

Entre as possíveis vítimas do Sheik, a modelo Sasha Meneghel (24), e seu marido, João Figueiredo (23), além do cantor Wesley Safadão (34). O casal realizou vários investimentos que, somados, ultrapassaram R$ 1,2 milhão. Já o cantor cearense disputa na Justiça com Francisley a posse de um jato avaliado em R$ 37 milhões, que teria sido oferecido como garantia de pagamento por um investimento realizado na empresa do Sheik. 

Ademar Ribeiro o pastor que introduziu Francisley no mundo evangélico, disse que, por acreditar no perdão, defende uma nova chance para o seu devoto. O religioso afirmou que a prisão o deixou de “coração entristecido”, mas que tem pedido a Deus “por ele todos os dias para que haja graça e misericórdia na esperança de que ele possa dar a volta por cima e restituir todas as pessoas prejudicadas”.

Ribeiro admitiu que Francisley, embora não fosse assíduo, era de fato frequentador de sua igreja, “e que possível eu aconselhava e prestava atendimento, assim como faço com os demais irmãos que muitas vezes não podem estar conosco frequentemente”.

Fonte: OGlobo.com.br, tvrecord.com.br e Youtube